REVOLTA

Manifestação contra massacre de estudantes termina em vandalismo no México

Por 02/12/2014 - 10:24

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Um novo protesto em massa no México (foto) contra presumível massacre de 43 estudantes terminou em vandalismo, nesta segunda-feira, quando se completou dois anos da presidência de Enrique Peña Nieto que enfrenta a pior crise de seu governo e um forte declínio de popularidade.

Para marcar o aniversário, dezenas de passeatas foram organizadas em todo o país para exigir que o governo encontre os jovens desaparecidos desde setembro em Iguala, um crime que o próprio Peña Nieto reconheceu na segunda-feira que marcou “um antes e um depois” de sua presidência (2012-2018).

Na capital, milhares marcharam pacificamente em meio a gritos exigindo a renúncia do presidente.

— Este é um dos piores governos que o México teve — disse Juan, um trabalhador de 59 anos, aos gritos de “Fora Peña”.

— Eu me coloco no lugar dessas mães que não sabem de seus filhos e é duro, é difícil, é doloroso. Chega! — gritou Reina Cruz, de 66 anos.

Após o fim da marcha à noite na Cidade do México, dezenas de mascarados armados com paus e bastões de beisebol quebraram fachadas de muitas lojas e bancos do emblemático Paseo de la Reforma, lançaram coquetéis molotov no interior das instalações e fizeram fogueiras nas ruas.

Centenas de policiais chegaram à região para impedir que os manifestantes chegassem à sede do Senado. Um porta-voz do governo disse que foram presos três homens com idades de 17, 18 e 19 anos.

 ESCRITORES LIDERAM MARCHA

Em Guadalajara, na Feira Internacional do Livro, escritores como o chileno José Donoso e o mexicano Juan Villoro também lideraram uma marcha em protesto contra o desaparecimento de estudantes.

Os estudantes desapareceram na noite de 26 de setembro, depois de terem sido atacados pela polícia em Iguala supostamente seguindo as ordens do prefeito. Depois os agentes entregaram 43 sobreviventes aos pistoleiros do cartel Guerreiros Unidos, segundo declarações de detidos, os mataram e incineraram seus corpos.

Na ausência de provas científicas, os pais se apegam à idEia de que eles estão vivos e exigem que o governo intensifique as buscas.

— Vamos buscá-los, vamos encontrá-los — disse na capital Clemente Rodriguez, cujo filho Cristian está entre os desaparecidos.

Milhares de outros mexicanos protestaram em outros pontos, mas as mais fortes aconteceram em Chilpancingo, capital de Guerrero, onde um grupo de manifestantes saqueou os escritórios da procuradoria estatal e queimaram cinco veículos, incluindo dois de policiais.

— Nós já não reconhecemos como presidente do México Enrique Peña Nieto, porque não resolveu nossa principal exigência de apresentar com vida nossos filhos — disse Felipe de la Cruz, porta-voz das famílias.

O Ministério Público enviou alguns restos carbonizados que encontrou na área para um laboratório austríaco de prestígio para a identificação.

Na cidade turística de Oaxaca, cerca de 1.500 professores e estudantes com paus e pedras bloquearam por quatro horas o acesso ao aeroporto e dois voos foram cancelados.

FORTE QUEDA DE POPULARIDADE

O jornal “Reforma” publicou na segunda-feira uma pesquisa indicando que a aprovação de Peña Nieto caiu entre agosto e final de novembro de 46% para 39%, enquanto outra do jornal "El Universal" observou uma queda de 46% para 41%.

Este é o menor nível de popularidade de um presidente mexicano desde meados dos anos 90, durante a presidência de Ernesto Zedillo (1994-2000), quando o México estava passando pela crise econômica conhecida como "Tequila".

O crime de Iguala, um dos piores na História recente da América Latina, tem gerado indignação sem precedentes no país, cansado de anos de violência.

Nesta mesma segunda-feira, Peña Nieto enviou ao Congresso um pacote de reformas constitucionais em matéria de segurança para enfrentar a infiltração do tráfico de drogas.

Entre as propostas está a substituição dos mais de 1.800 policias municipais por forças únicas de cada um dos 32 estados e a autorização a seu governo para dissolver qualquer ajuntamento diante de "indícios suficientes" de infiltração.

— O que aconteceu em Iguala marca claramente um antes e um depois (...). Evidenciou a fraqueza institucional para combater o crime organizado, agora em maior número, armas e capacidades de força — disse Peña Nieto durante uma entrega de casas no estado de Chiapas.

 O plano de segurança gerou ceticismo entre analistas e defensores dos direitos humanos que acreditam que será insuficiente para acabar com a corrupção e os abusos das forças de segurança que participam do combate ao crime organizado, que já deixou mais de 100 mil assassinatos e desaparecimentos desde 2006.

Peña Nieto, que não pode se candidatar à reeleição, tinha posto até agora o foco de seu governo em suas ambiciosas reformas econômicas. Estas inéditas iniciativas, especialmente a que abriu o nacionalizado setor petroleiro ao investimento privado, lhe deram reconhecimento no exterior.

 

 

Fonte: O Globo


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